Almanaque
Vê se tem no almanaque,
essa menina,
como é que termina um grande amor
“Maior…
Muito maior que o maior de todos os amores,
é o meu amor por ti.
Porque eu te amo assim,
desgraçadamente ciente,
do tamanho do teu desamor por mim!“
Chico Buarque, eu o descobri, a primeira vez, no LP (leia-se Long-Play) Meus Caros Amigos. E sua genialidade na música “Corrente”, que nem é assim tão conhecida nem aclamada, nem aplaudida. Considero-a, mesmo, uma injustiçada. Talvez por que não fala de amor, nem de mulher, nem de saudade, nem de relações amorosas. Corrente, a música, a letra, é realmente uma injustiçada.
Você não vê ninguém por aí sequer lembrando da música, nem da letra. E que belo exercício de capacidade e talento fez brotar tão meritória, porém silenciosa e injustiçada canção?
1976 – Meus Caros Amigos
01. O Que Será (À Flor da Terra)
02. Mulheres de Atenas
03. Olhos Nos Olhos
04. Você Vai Me Seguir
05. Vai Trabalhar Vagabundo
06. Corrente
07. A Noiva da Cidade
08. Passaredo
09. Basta Um Dia
10. Meu Caro Amigo
Decerto que a injustiça que lhe abate é decorrente mesmo de que trata-se de uma canção que teve o seu tempo, a sua determinação temporal, a sua única finalidade, a de vencer a barreirta da censura que imperava na ditadura do regime militar que governava o Brasil. E passou com louvor. Tanto louvor que poucos se deram conta de que a música era p’ra ser lida verso-a-verso, porém no sentido inverso. Do último, para o primeiro. No entanto, do mesmo LP, todas as demais são conhecidas atuais de qualquer pessoa que cultue a boa música popular brasileira. O que se pode dizer de “Basta um Dia”? “Passaredo”? “Você Vai Me Seguir”? “Olhos nos Olhos”? “Mulheres de Atenas”? “O que será”? A Noiva da Cidade?, “Vai Trabalhar Vagabundo?, “Meu Caro Amigo”?
Como algum adolescente pode ouvir tanta qualidade literária e não internalizar tantas mensagens subliminares. Foi alí, naquele disco, onde nenhuma daquelas músicas pode ser deixada de lado, que Chico passou a fazer parte do meu universo e pensamentos, para nunca mais sair.
Aquilo era arte. De verdade. E eu estava grato por ter recebido a graça de conhecer aquele talento, aquela voz marcante, somente dele, sem similar, sem imitadores, única, singular. Desde aquele tempo me causa (não vou dizer asco… Mas já que disse) repulsa ouvir outras vozes cantando músicas de Chico Buarque.
Pois bem, retornando à minha adolescência, estava – eu – de passagem por Teresina, em férias escolares da Escola Técnica Federal de Pernambuco. E como sempre, minhas férias sempre incluiam uma temporada em Teresina. Mesmo que eu fosse a Brasília, o retorno seria por Teresina. Naquele tempo, ainda nem sabia o que era o Governo Militar, o seu verdadeiro sentido. Fui levado a ir descobrindo pouco-a-pouco, nas conversas que mantinha com um meu primo (que éramos unha e carne, desde criancinhas… Um irmão. Um mais que irmão. A vida tratou de separar-nos de forma irremediável, mas ainda nutro por aquele verme um bom sentimento de amor fraterno).
Pois foi ele que me apresentou à verdadeira música popular brasileira. Apesar de sua voz inaudível, no entanto tocava violão, e uns acordes, e a “radiola” na sala, ouvindo Chico Buarque… Aqueles discos de vinil, parece, tinham alma. Não era essa coisa fria e sem vida dos CDs. O Long-Play tinha cheiro. Tinha encarte. Tinha as letras. Era algo assim espetacular. Comprar um LP era um ritual. Depois chegamos a ouvir também outros ícones. Caetano, Gal, Bethânia, Milton Nascimento, Clube da Esquina, Elis e os aviões da Panair, Minas, Geraes.
Lembro, de volta a Recife, do meu primeiro Long-Play que comprei de Milton Nascimento. Lembro do cheiro, da sensação, com a mesma clareza com que lembro o apalpar do primeiro seio de uma mulher: me foge o nome, mas o apalpar, o fogo, o êxtase, ainda hoje permanece na lembrança. Fé Cega, Faca Amolada; Sabor de Vidro e Corte… Milton fez renascer poesia dentro do meu coração.
Mas alí, em Teresina, naquele meu primeiro despertar musical-social, ouvi falar de Vandré. Das barbáries que o Sistema fez contra ele por causa da música “Pra não dizer que não falei das flores”. Fiquei estupefado. Compreendi, então, a grande massa encefálica que moveu Chico Buarque a compor “Corrente” e os riscos que correu apresentando-a para aprovação pela “censura federal’.
Um homem de coragem, podemos assim dizer. Claro que costas largas, família tradicional, grandes personalidades e ligações familiares estavam por trás dessa “coragem”. Mas não lhe tira os méritos, pois a DITA-DURA nada respeitava quando queria lançar alguém nos porões do DOI-CODI, de onde poucos saíram com vida para contar das torturas, choques, paus-de-arara e tudo que seja insano que naqueles porões ocorria.
Bom… E’ta passando o tempo e nem falei do excelente álbum Almanaque, de Chico, já no início da década de 80. Não poderia supor que Chico fosse capaz dessa façanha, de lançar um novo álbum com qualidade similar ou superior à Ópera do Malandro ou a Samambaia. Mas ele o fez.
Texto adiante coletado no site:
http://blog.sitedepoesias.com.br/poetas/chico-buarque/
Vê se tem no almanaque,
essa menina,
como é que termina um grande amor
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
Eu penso em minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar…
A saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto(?)…
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
O homem mais forte do planeta
Tórax de Superman
Tórax de Superman
E coração de poeta
Bom…
Não sei terminar um artigo sem dizer mais nada, ainda mais se for um término copiado (e creditado) de aslgum site, como o texto intermediário acima, mantido os links ativos originais.
Então é isso! Quis abrir este tópico para que você, prezado leitor, adicione na caixa de texto “Responder esta” (em algum forum-tópico de comunidade), ou na caixa de texto “comentar”, responda publicando alguma frase do Chico, algum fragmento de suas composições. Li, em algum lugar, que o Chico Buarque não se considera um poeta, mas um compositor. Talvez tenha razão, vez que compõe letra a partir de uma dada melodia. Mas não deixa de ser poesia qualquer frase ou verso de suas composições. É sim um poeta, Chico Buarque.
E dos maiores que já passaram por este mundo de meu Deus. E se a composição “Cais” de Milton Nascimento não existisse, Chico seria o maior poeta vivo desta contemporaneidade. Fica, então, com o título de os dois melhores poetas vivos da atualidade: Chico e Milton Nascimento.
E o resto?
O resto, não é resto. É nata da mais fina flor, de modo que falar de uns e não mencionar outros será uma injustiça, pois temos, atualmente, cerca de uns cem compositores poetas de primeira grandeza: O que dizer de Caetano? De Paulo e André Barata? De Gonzaguinha? de Cazuza? de Paralamas do Sucesso? da Blitz? dos Mamonas Assassinas (e que se foram num dia de um meu aniversário – nunca mais fiz festa de aniversário.)?
Um abraço.
Lustato Tenterrara
Owner dos Sites, blogs, páginas literárias, grupos, redes e comunidades associadas da Rede Brasil Poesias
e do site Amor & Poesias Messenger Love & Passion of Lustato Tenterrara
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